terça-feira, 29 de setembro de 2015

O Papa em Cuba: O dinheiro e a guerra

Havana (Prensa Latina) A visita do Papa Francisco a Cuba, um verdadeiro acontecimento mundial, mostrou com máxima clareza ante um povo imerso em uma histórica batalha por seu futuro o pensamento do Sumo Pontífice sobre temas que não tocam somente a igreja católica, mas os adeptos e não adeptos e toda a Humanidade no atual momento vivido pelo planeta.

O destacado visitante, recebido com afeto e respeito por milhares de pessoas que participaram das boas-vindas em seu percurso por três províncias do país antilhano, quis falar diretamente sobre questões tão importantes como as obrigações da igreja no mundo, a vocação que deve ter especialmente com os pobres, a necessária unidade com os que pensam diferente e o papel de Cuba no contexto internacional.

Serenamente, mas com firmeza, referiu-se a assuntos tão sensíveis como a perda de valores por parte dos adoradores do deus dinheiro, dispostos por sua ambição a transformar a Terra em um verdadeiro inferno, e enfatizou a necessidade de pôr fim à "III Guerra mundial por etapas que estamos vivendo".


Na realidade, estas opiniões não foram sem um verdadeiro fundamento ou expostas ao calor do contato com o afeto demonstrado pelos cubanos durante sua estadia no país.

O Papa, como argumentou em seus pronunciamentos, está consciente de situações tão perversas como as guerras desencadeadas na África e no Oriente Médio, cuja razão fundamental é o desejo de se apoderarem das riquezas existentes nesses territórios e submeter politicamente governos e instituições.

Os que cultuam esse deus dinheiro já mostraram como podem ser destruídas nações inteiras mediante o uso da força, tornar em ruínas sua institucionalidade, dividi-las inclusive em partes irreconciliáveis, ocupá-las militarmente e causar as maiores dores a seus habitantes. Conhecem perfeitamente a tragédia vivida atualmente por milhões de refugiados, expulsos de suas terras pelo conflito armado ou pela fome e até rejeitados pelos mesmos governos e Estados que levam a cabo suas agressões, mas isso não os comove.

O drama dos homens, mulheres e crianças que empreendem a cada dia fugas sem destino, que morrem nas águas do Mediterrâneo ou são rejeitados pelos governos europeus, representa um dos maiores problemas provocados por essa III Guerra Mundial apontada pelo Papa.

Mas também o constituem os defensores dos bloqueios e outras ações punitivas contra países que zelam por sua independência e soberania, construtores de um futuro diferente, como é o caso de Cuba.

O Bispo de Roma não deixou de citar o pensamento martiano durante sua estadia na ilha caribenha e enfatizou seu desejo de respaldar, como fez o Apóstolo, uma sociedade para todos e pelo bem de todos.

É difícil encontrar uma definição mais clara do papel desempenhado por Cuba atualmente no mundo que a expressada por Francisco nesta ocasião: 

Trata-se de um arquipélago que olha para todos os caminhos, com um valor extraordinário como chave entre o norte e o sul, entre o leste e o oeste e com vocação de ponto de encontro para reunir todos os povos em amizade, como sonhou José Martí.

Nada mais exato se analisar a solidariedade empreendida pelos cubanos depois do triunfo de sua Revolução e os esforços integracionistas convertidos em realidade, por exemplo, nas organizações alcançadas para unir os Estados latino-americanos e caribenhos.

Durante os dias de sua visita, o Bispo de Roma pôde constatar muitas virtudes do povo cubano, constituídas mediante o esforço e luta das gerações que viveram sob a influência da revolução triunfante.

Sua atenção se voltou para estas questões em sua chegada, quando o presidente Raúl Castro explicou ao Papa que os cubanos amam profundamente a Pátria e por ela são capazes de realizar os maiores sacrifícios, guiados pelo exemplo dos heróis de Nossa América.

O Pontífice não apenas pôde aproximar-se de tal panorama mas também considerou válido ratificar suas orientações sobre as características que deve ter o trabalho da igreja especialmente voltada para os pobres.

Quero uma igreja para acompanhar a vida, sustentar a esperança, comprometida com a cultura e a sociedade, com o coração e os olhos abertos para compartilhar prazeres e alegrias, esperanças e frustrações, visitar o doente, o preso, o que chora e o que sabe rir, sublinhou.

E para completar a descrição, afirmou aos bispos, sacerdotes, freiras e seminaristas: 

"Nossa revolução passa pela ternura, pela alegria que, transformada sempre em proximidade e compaixão, nos faz sair de casa para servir na vida dos demais".

Seus pronunciamentos aos jovens exortaram, entre outras coisas, a necessidade de evitar os "conventillos", sejam eles religiosos ou políticos, para facilitar a necessária unidade e reivindicou que façam um esforço para marchar juntos inclusive com os que pensam diferente, preferindo sempre os temas que unem.

O dever religioso de servir aos mais necessitados, aos que têm menos recursos, foi sublinhado ante uma sociedade que vive uma revolução profunda definida desde o princípio como a dos humildes, pelos humildes e para os humildes, propósito sustentado durante toda sua existência.

Por Javier Rodríguez* 

* Jornalista da Redação Nacional da Prensa Latina.