Havana (Prensa Latina) A visita do Papa Francisco a Cuba, um verdadeiro acontecimento mundial, mostrou com máxima clareza ante um povo imerso em uma histórica batalha por seu futuro o pensamento do Sumo Pontífice sobre temas que não tocam somente a igreja católica, mas os adeptos e não adeptos e toda a Humanidade no atual momento vivido pelo planeta.
O destacado visitante, recebido com afeto e
respeito por milhares de pessoas que participaram das boas-vindas em seu
percurso por três províncias do país antilhano, quis falar diretamente sobre
questões tão importantes como as obrigações da igreja no mundo, a vocação que
deve ter especialmente com os pobres, a necessária unidade com os que pensam
diferente e o papel de Cuba no contexto internacional.
Serenamente, mas com firmeza, referiu-se a assuntos tão sensíveis como a perda
de valores por parte dos adoradores do deus dinheiro, dispostos por sua ambição
a transformar a Terra em um verdadeiro inferno, e enfatizou a necessidade de
pôr fim à "III Guerra mundial por etapas que estamos vivendo".
Na realidade, estas opiniões não foram sem um verdadeiro fundamento ou expostas
ao calor do contato com o afeto demonstrado pelos cubanos durante sua estadia
no país.
O Papa, como argumentou em seus pronunciamentos, está consciente de situações
tão perversas como as guerras desencadeadas na África e no Oriente Médio, cuja
razão fundamental é o desejo de se apoderarem das riquezas existentes nesses
territórios e submeter politicamente governos e instituições.
Os que cultuam esse deus dinheiro já mostraram como podem ser destruídas nações
inteiras mediante o uso da força, tornar em ruínas sua institucionalidade,
dividi-las inclusive em partes irreconciliáveis, ocupá-las militarmente e
causar as maiores dores a seus habitantes. Conhecem perfeitamente a tragédia
vivida atualmente por milhões de refugiados, expulsos de suas terras pelo
conflito armado ou pela fome e até rejeitados pelos mesmos governos e Estados
que levam a cabo suas agressões, mas isso não os comove.
O drama dos homens, mulheres e crianças que empreendem a cada dia fugas sem
destino, que morrem nas águas do Mediterrâneo ou são rejeitados pelos governos
europeus, representa um dos maiores problemas provocados por essa III Guerra
Mundial apontada pelo Papa.
Mas também o constituem os defensores dos bloqueios e outras ações punitivas
contra países que zelam por sua independência e soberania, construtores de um
futuro diferente, como é o caso de Cuba.
O Bispo de Roma não deixou de citar o pensamento martiano durante sua estadia
na ilha caribenha e enfatizou seu desejo de respaldar, como fez o Apóstolo, uma
sociedade para todos e pelo bem de todos.
É difícil encontrar uma definição mais clara do papel desempenhado por Cuba
atualmente no mundo que a expressada por Francisco nesta ocasião:
Trata-se de um arquipélago que olha para todos os caminhos, com um valor
extraordinário como chave entre o norte e o sul, entre o leste e o oeste e com
vocação de ponto de encontro para reunir todos os povos em amizade, como sonhou
José Martí.
Nada mais exato se analisar a solidariedade empreendida pelos cubanos depois do
triunfo de sua Revolução e os esforços integracionistas convertidos em
realidade, por exemplo, nas organizações alcançadas para unir os Estados
latino-americanos e caribenhos.
Durante os dias de sua visita, o Bispo de Roma pôde constatar muitas virtudes
do povo cubano, constituídas mediante o esforço e luta das gerações que viveram
sob a influência da revolução triunfante.
Sua atenção se voltou para estas questões em sua chegada, quando o presidente
Raúl Castro explicou ao Papa que os cubanos amam profundamente a Pátria e por
ela são capazes de realizar os maiores sacrifícios, guiados pelo exemplo dos
heróis de Nossa América.
O Pontífice não apenas pôde aproximar-se de tal panorama mas também considerou
válido ratificar suas orientações sobre as características que deve ter o
trabalho da igreja especialmente voltada para os pobres.
Quero uma igreja para acompanhar a vida, sustentar a esperança, comprometida
com a cultura e a sociedade, com o coração e os olhos abertos para compartilhar
prazeres e alegrias, esperanças e frustrações, visitar o doente, o preso, o que
chora e o que sabe rir, sublinhou.
E para completar a descrição, afirmou aos bispos, sacerdotes, freiras e
seminaristas:
"Nossa revolução passa pela ternura, pela alegria que, transformada sempre
em proximidade e compaixão, nos faz sair de casa para servir na vida dos
demais".
Seus pronunciamentos aos jovens exortaram, entre outras coisas, a necessidade
de evitar os "conventillos", sejam eles religiosos ou políticos, para
facilitar a necessária unidade e reivindicou que façam um esforço para marchar
juntos inclusive com os que pensam diferente, preferindo sempre os temas que
unem.
O dever religioso de servir aos mais necessitados, aos que têm menos recursos,
foi sublinhado ante uma sociedade que vive uma revolução profunda definida
desde o princípio como a dos humildes, pelos humildes e para os humildes,
propósito sustentado durante toda sua existência.
Por Javier Rodríguez*
* Jornalista da Redação Nacional da Prensa Latina.
Fonte: Agência Prensa Latina