Durante os dias 25, 26 e 27, realizou-se o II Encontro Nacional dos Estudantes Brasileiros de Medicina em Cuba, no Acampamento Internacional “Julio Antonio Mella” (CIJAM), Município Caimito, Província Artemisa. O evento contou com a participação de 130 delegados eleitos entre os quase 600 estudantes brasileiros. Com o objetivo de debater assuntos internos da organização, a solidariedade a Cuba e a inserção dos egressos da ELAM ao Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil.
A abertura do evento contou com a presença do Reitor da ELAM, Dr. Juan Carrizo Estevez, do primeiro secretário da Embaixada do Brasil em Cuba, Túlio Amaral Kafuri, do professor Dr. Marco Aurélio da Ros (UFSC), da professora Maria Auxiliadora Cesar, coordenadora do Núcleo de Estudos Cubanos da UnB, do presidente da OCLAE, Yeovani Chachaval, dos Diretores de atenção ao Brasil e Atenção a Estudantes Estrangeiros do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP), Fabio Simeón e Bárbara Diaz, respectivamente e da representação do CIJAM.
Durante a abertura os estudantes apresentaram uma Moção de Solidariedade a Cuba, exigindo a libertação imediata de Ramón, Gerardo, René, Fernando e Antonio, os cinco lutadores anti-terroristas cubanos presos nos EUA, o fim do bloqueio a Cuba, o fechamento da Base de Guantánamo e o cesse da Agressão Imperialista a Líbia.
No sábado 26, o Professor Dr. Marco Aurélio da Ros, participou de um frutífero encontro com os estudantes, no qual se debateu o tema “Reforma Sanitária no Brasil, passado, presente e perspectivas”. Os trabalhos seguiram pela tarde em Grupos Temáticos sobre: Solidariedade a Cuba, Reforma Sanitária, sobre Extensão Universitária (o papel das Brigadas Estudantis de Saúde), a inserção na Associação Medica Nacional – Maria Fachini e sobre a revalidação dos diplomas no Brasil.
No domingo, os estudantes debateram com a professora Maria Auxiliadora (NESCUBA) e com o companheiro Fabio do ICAP sobre a história do movimento de solidariedade a Cuba no Brasil.
Os trabalhos se encerraram com a aprovação do novo estatuto da ABEMEC e com a aprovação de uma “Carta aberta ao povo brasileiro”.
Nésio Fernandes de Medeiros Junior.
Secretário de Comunicação da ABEMEC – Pólo Havana.
Cidade de Havana, 28 de março de 2011.
Segue moção aprovada.
Presidente ABEMEC – Pólo Havana, Thiago Ponciano, Reitor da ELAM, presidente da OCLAE, Yeovani Chachaval, Dr. Juan Carrizo Estevez, do primeiro secretário da Embaixada do Brasil em Cuba, Túlio Amaral Kafuri.
Carta aberta ao povo brasileiro.
No ano de 1998, quando os furacões George e Mitch provocaram grandes destruições em centro-américa, suplantando a capacidade de resposta civil e governamental aos desastres naturais, o governo cubano decidiu fundar uma Escola Internacional para a formação de médicos, 100% pública, 100% gratuita, aos jovens dos países periféricos, com o objetivo de atender aos excluídos dos sistemas de saúde precarizados e privatizados. Um ano depois se cria a Escola Latino-americana de Medicina (ELAM).
A partir da próxima graduação seremos mais de 10.000 médicos, oriundos de 116 países de Ásia, África, Oceania e América, formados por esse projeto. Até o momento os médicos formados pela ELAM estão participando de importantes projetos sociais em inúmeros países de América.
No Haiti existe uma cooperação tripartite entre os governos de Cuba-Brasil-Haití, onde mais de 680 médicos formados em Cuba, trabalham atendendo gratuitamente ao povo haitiano, atingido pelo terremoto mais forte conhecido pela história contemporânea do continente e que agora sofre uma importante epidemia de cólera.
No Equador, jovens formados em Cuba participam de uma Missão governamental chamada “Manuela Espejo”, estão fazendo o levantamento em todos os rincões desse país das pessoas com deficiência física e mental, levando assistência médica integral a todo o interior equatoriano.
Na Venezuela, jovens formados pela ELAM participam de um projeto Governamental chamado “Batalhão 51”, em homenagem aos primeiros 51 venezuelanos formados pela ELAM, que atende a populações ao longo da Amazônia venezuelana e outras regiões afastadas desse país.
Poderíamos citar exemplos do trabalho dos médicos latinos formados em Cuba, em Nicarágua, México, Honduras, Guatemala, Peru, Bolívia e em muitos outros países de América.
E no Brasil, país mais rico da América Latina, que possui mais de 568 municípios sem nenhum médico e mais de 1500 sem médico fixo, onde crianças morrem por enfermidades infecciosas, desidratação, e outras enfermidades previníveis, facilmente tratáveis se atendidas prontamente, no qual a mortalidade infantil está em torno de 20 por mil nascidos vivos, sendo que no nordeste, por exemplo, chega a 34,4 por mil nascidos vivos, muito diferente de Cuba com 4,5 por mil. Além disso, são milhares os pacientes da terceira idade, portadores de doenças crônicas não transmissíveis, como a Hipertensão Arterial e a Diabetes, sem atenção médica devida. A inserção dos estudantes formados em Cuba e em outros países no Brasil tem sido dificultada por barreiras corporativas de setores reacionários e mentirosos, que até hoje não assumiram a responsabilidade de levar o direito à saúde a todo o povo brasileiro.
A medicina no Brasil hoje é controlada pelo Complexo Médico-Industrial: “empresários da saúde”, corporações farmacêuticas e de tecnologia médica que influenciam a formação médica, de forma que nossos médicos são educados a interpretar “exames complementares”, sem tocar nem olhar o paciente, sem entrevista-lo, nem menos dedicar-lhe atenção psico-social. A medicina brasileira esta mercantilizada e desumanizada.
Nós, estudantes da Escola Latino-Americana de Medicina, vimos a público colocar-nos a disposição da sociedade e dos poderes públicos de todos os níveis da federação para a realização de um Plano Integral de Inserção ao Sistema Único de Saúde (SUS), que permita a inserção de médicos formados no Brasil e no exterior, dispostos a levar o acesso à saúde e qualidade de vida às famílias hoje excluídas da assistência médica.
O Sistema Único de Saúde é a bandeira mais ousada que o movimento popular brasileiro construiu com muita luta e articulação no século passado. Desde a sua aprovação na constituição cidadã e da incompleta regulamentação posterior, tem sofrido ataques constantes que ameaçam destruir e descaracterizar o maior sistema de cobertura médica do mundo. Por conta do reconhecimento das patentes internacionais sobre os medicamentos, a demora para aprovação da Emenda Constitucional 29, a derrubada da CPMF, a legalização das Fundações e a entrega do serviço de saúde às Operadoras de Serviço, o SUS necessita cada vez más ser defendido e tornar-se uma realidade.
O Brasil, que possuí um desenho formal do sistema de saúde mais completo que outros países da região, gasta menos per capita que países vizinhos como Argentina e Chile.
Nós, estudantes de medicina da Escola Latino-americana de Medicina, reunidos em nosso II Encontro Nacional em Cuba, vimos a público manifestar nosso compromisso de tornar o Sistema Único de Saúde uma realidade para o povo brasileiro. Convidamos a sociedade para juntar-se a nós na defesa de um SUS verdadeiramente para todos.
27 de março de 2011. Caimito, Província Artemisa, Cuba.