quarta-feira, 13 de maio de 2020

Cuba em tempos de Covid-19


Desde final de dezembro, quando foram veiculadas as primeiras notícias 
da província de Hubei na cidade de Wuhan, na China, sobre o corona vírus, 
médicos especialistas do Ministério de Saúde Pública (Minsap), virologistas do 
Instituto de Medicina Tropical Pedro Kouri (IPK) e de outras instituições 
científicas começaram a investigar o fenômeno.
A partir do dia 11 de março, quando três turistas italianos foram
identificados com a Covid-19, surgiu um conjunto de medidas para enfrentar 
esse tipo de vírus (Sars Cov 2), foram mobilizadas as organizações política e de 
massa, assim como prestadas as informações quantitativas e qualitativas diárias 
à população, assim como os principais temas discutidos nas reuniões de todos os 
dias do presidente da República de Cuba Miguel Díaz-Canel Bermúdez e 
ministros, por meio dos diferentes meios de comunicação. 
No programa ‘Mesa Redonda’, o tema geral é a Covid-19 e dele 
participam, alternadamente, cientistas de diferentes organismos que compõem o 
Polo Científico; diretores de laboratórios e a comunidade científica: decanos de 
universidades e representantes de instituições científicas de diferentes áreas e
especialistas do grupo interdisciplinar do Ministério de Saúde Pública (Minsap), 
em colaboração intersetorial e interdisciplinar, enfim, como dizem os
participantes, ‘governo e ciência em função de salvar vidas’. Nessas e em outras 
ocasiões sempre é lembrado o artífice de toda essa estrutura de saúde e esse 
método de ação, Fidel Castro. 
Para a Covid-19 são usados cerca de 15 produtos de fabricação nacional 
e em menor número de importados. Além do Interferon Alfa 2B, anti viral já 
usado anteriormente, utilizam a cloroquina e o PrebengHo Vir, antibióticos, e 
plasma dos recuperados que desenvolvem anticorpo monoclonar, especialmente 
para pacientes em estados crítico e grave. Além do tratamento dos casos 
positivos, há preocupação com o fortalecimento da imunidade da população em 
geral, com distribuição gratuita, casa a casa, de o medicamento homeopático 
PrebengHo VIR, que é inócuo e incrementa defesa no organismo, aumentando a 
imunidade. 
O protocolo de tratamento de Cuba tem um esquema rígido de busca e 
internação e de atendimento. São realizados Testes rápidos e o conhecido PCR
(Proteina C Reativa) em tempo real, mais sensível ao vírus. O período de tratamento é de 28 dias, sendo os 14 primeiros no hospital e depois da alta 
médica mais 14 dias de isolamento em Centros de isolamento ou em casa, com 
vigilância sanitária e epidemiológica de equipe de saúde. 
Cuba teve uma fase pré-epidêmica e na primeira semana de abril passou 
à de transmissão autóctone limitada, e não chegou à fase de transmissão 
comunitária. 
Todos os setores do governo e da sociedade civil trabalham no âmbito da 
prevenção e proteção para que a curva de crescimento da Covid-19 seja menos
elevada, a partir de um modelo matemático – curva alta (linha vermelha), média 
(linha verde) e baixa (linha azul, favorável). Para isso, preventivamente, foram 
providenciados o aumento do número de leitos e equipamentos nos hospitais; a 
preparação de salas de terapia intensiva; a produção de mais medicamentos pela 
indústria farmacêutica; a maior capacitação de equipes de saúde e de outros 
trabalhadores para o funcionamento adequado dos serviços; a preparação de 
mais Centros de diagnóstico e Centros de isolamento em dependências de
Centros Universitários, escolas, Faculdade Latino Americana de Medicina, 
instalações do governo; o aumento do número de Testes rápidos e PCRs; a 
intensificação da pesquisa e busca ativa; a produção de máscaras e batas e de 
máscaras protetoras para o pessoal de saúde. Dessa maneira não há possibilidade 
do sistema de saúde colapsar..
Com o objetivo de evitar aglomerações e restringir circulação inter e 
intraprovinciais foram adotadas outras medidas em nível de funcionamento de 
vários serviços e que favoreçam também a compra de produtos alimentícios, de 
higiene e asseio. Ainda em março foram suspensas as aulas presenciais em 
todos os níveis de ensino. 
Hoje, passados exatamente dois meses da identificação dos primeiros 
casos, a situação é bastante favorável, pois há 10 dias as altas são maiores que 
as internações. Faleceram 77 pessoas, a maioria com doenças associadas, como 
as cardiovasculares, hipertensão, diabetes, alcoolismo. Dos casos ativos (menos
2 estrangeiros que tiveram alta e voltaram ao país de origem, 1 em estado crítico 
e 6 graves, os falecidos e as altas médicas), os que apresentam estado clínico 
estável representam 98,0%. Dos casos positivos, a maioria está na faixa etária 
entre 40 e 60 anos e há percentual similar entre sexo feminino e masculino. Os 
assintomáticos estão entre 40 e 60% do total de casos confirmados e o mapeamento desses casos foi fundamental para romper a cadeia de transmissão. 
E a curva a que me referi anteriormente continua baixando a partir da linha azul, 
a mais favorável. Mas, continua o incessante chamado para a necessidade de 
cumprir as medidas de proteção e prevenção, para que não haja nenhum evento 
local que possa comprometer este resultado satisfatório.
Por outro lado, Cuba confirma sua solidariedade em diferentes ações, em 
consonância com o defendido e o praticado, com destaque, nestes tempos, para 
o envio de 25 brigadas médicas a 23 países, compostas por 1500 especialistas.
Destacamos também ações de solidariedade de outros países a Cuba, quando 
não impedidas de se concretizarem pelas leis do bloqueio. 
A máxima de José Martí “Pátria é humanidade”, sistematicamente 
repetida nas inúmeras manifestações massivas pelo Comandante Fidel Castro, é
internalizada nas mentes e nos corações do povo cubano. 
A democracia participativa da Ilha, coerente com a proposta socialista 
solidária e humanista, revela ao mundo que não se mercantiliza a vida e que
defende os valores de cooperação, humanismo, solidariedade e a unidade de 
todos os setores políticos e sociais.
Assim, essa pandemia revela o valor de cada sociedade – quanto mais 
dirigida a privilegiar valores sociais socialistas, mais universal o atendimento
tende a ser. 
Vale ressaltar que neste processo revolucionário a dimensão econômica 
acompanha a dimensão social. E assim, com a crise da economia mundial e o 
bloqueio comercial e financeiro de quase 60 anos, recrudescido pelo governo 
dos Estados Unidos, mesmo em tempos de pandemia, o próximo será para Cuba 
um período complexo e desafiador.
Havana, 11 de maio de 2020
Maria Auxiliadora César – aposentada do Dep. de Serviço Social/ 
Fundadora do Nescuba/Ceam/UnB/ Residente temporária em Cuba